24 de março de 2013

Traços


O teu rosto no retrato é mais real do que retratam os teus
traços. Traços que também estão no retrato, mas face a
face são móveis, ali estão estáticos.

Traços no retrato que são largados e esquecidos no fundo
da gaveta, e que as traças comem.

Traças comem traços, assim como me comiam teus
braços, naquele laço, naquele embaraço.

Profundo amasso, profundo fracasso...

Fumar, fumar, fumar cigarros aos maços, envolver-me na
fumaça ao som de um tango, bebendo um vinho
vagabundo, que não vale um mango.

Me sinto tão livre de você agora; tão livre quanto um
pássaro na gaiola.

Livre pra viajar e me afundar nessa saudade que me
prende e me rende ao prazer de sentir teu suor escorrer no
meu corpo, fruto de quando meus traços e teus traços se
juntam em mals tratos.

Realizamos o ato.

Sofre coração... sofre mais uma vez. Você merece ter mais
esse traço de fraqueza; fraqueza da carne do miocárdio.

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