20 de junho de 2013

Eu-desperto



Vem o tempo e fere a fúria
da mansidão dos sentimentos. 
Vem de súbito, no repente, 
nesses instantes, frações de eternidade. 

Da noite pro dia
são tantas as estrelas que escurecem, 
toda a lua que se esquece, 
ocidente-oriente. 
Espera-se o sol. 
Mas volta e meia vem ele
todo anuviado. 

Flagrado fui pela fragrante flor
do medo,
a rosa negra do nosso jardim 
em chamas. 

Não sei-me, 
Desaprendi-me. 
Perdi-me no encontro, 
encontro-me na despedida. 

Eu que o tempo engana
que fere
que cura. 

6 de junho de 2013

Angulare




Há que se tomar em mãos
matérias desconhecidas.
Há de torná-las em algo conhecido
mas sem explicação.
Que graça há em criar aquilo que se sabe?
O colorido nasce da surpresa.

Há de ser sempre o tempo,
esse fatal fato,
inimigo da saudade,
paliativo das dores,
amigo das coisas desarrumadas,
aquilo que trará o que nós precisamos
mas não o sabemos.

Há de se cultivar a semente,
esperar seu tempo.
Repara bem
quanto tempo leva um botão pra formar-se
e como a flor nasce no repente.
Veja como a noite atravessada na insonia é grande,
mas quando o sono é tanto, ela é questão de minutos.

Há de se constatar que as coisas
são aquilos que as chamamos.
A luz acesa do meu quarto
faz dia.
Não, não é noite.



3 de junho de 2013

Preamar

Já aprendi a não me perturbar com teu silêncio,
ele que é a resposta de todas as minhas palavras,
que exclama enquanto eu interrogo.
Teu sossego é meu desassossego,
tua calma, minha fúria.

Ah, meu amor, se tu soubesses
como essa viagem em vagões separados
tem me doído a alma,
virias correndo sentar ao meu lado.
Poderíamos pedir um café
e falar um pouco sobre a vida.

Viestes com essa função sublime
de completar meus paradoxos,
e com a magia de não lhes permitir
interpretação alguma.
São nossos paradoxos,
autoexplicativos para nós.

Meu bem, a saudade
do nosso ex-futuro
tem me feito chorar o dobro da metade.
Aquela semente que plantamos
germinou;
ela tem perguntado por nós,
que lha direi?