29 de maio de 2013

Eu lírico



Mundo, vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
talvez fosse uma solução.
Sim, da rima faço a poesia,
e ai de quem diga que nela
não há solução.

Poesia canta amores,
dores,
fala de flores,
fala de todas as coisas
que eu não sei o nome.
É catarse.

Ah, esse mundo de tantos Raimundos,
de tantas rimas,
de tantos meninos e meninas
que seguem suas sinas,
chorando por seus sonhos
rindo de suas desgraças.

A poesia não me deixa conformar,
me faz subir enquanto todos descem,
não querer quando todos querem.
A minha poesia é o que a vida faz de mim,
pois a vida é a mais longa poesia
ora em verso, ora em prosa,
ora nessas formas que só ela
pode ser.





28 de maio de 2013

Degelo

Que o nosso tempo caia devagar
feito chuva fina em tarde fria. 
Que nossas vidas saibam exatamente
onde combinam nossos encantos.
Em cada manhã perder-te
E encontrar-te
E perder-nos
E reencontrar-nos.

Que aos poucos descubramos o muito
daquilo que é o presente do futuro.
Que a presença seja doce
seja leve,
mas que o coração pulse no mais frenético dos ritmos. 
Que saibamos ser calmaria
em plena tempestade, 
no meu
no seu
no nosso abraço.

(A SSP)

22 de maio de 2013

Interiorando-me

Espero que me perdoe
pelo meu jeito pouco convencional,
de me esconder de ti quando eu mais te quero.
Espero que entenda
que não fujo de você,
fujo de mim.
Me carregam meus medos,
minhas incertezas.
Minha inconstância.

Espero que veja
o que vê os olhos do meu coração,
que em segundo algum deixou de pulsar por ti.
Assim, anseio que saibas o que eu mais sei,
e sei porque sinto,
e o que sei
é que nos amo.





17 de maio de 2013

To be or not to be?

Estou preso as presas
da pressa
do que me prende.
Estou pronto pra precipitar
feito nuvem que se forma,
mas delas só herdei a fragilidade.

Mostro-me forte sendo fraco,
quero ser fraco quando tenho de ser forte.
Quero não existir
quando tenho que ser.

Queria ser inglês
pra ser "to be".
Ser e estar.

Estar sendo,
ser estando.

Mas às vezes não sei ser,
nem estar.
E, então, o que sou?
o que estou?

Eu me perco no labirinto que eu mesmo criei.
Não sei usar o mapa que eu mesmo desenhei.
Fico parado defronte às minhas próprias metáforas,
das quais não tenho desprendido interpretação alguma.


13 de maio de 2013

Dove sei tu?


Cansei de chorar ouvindo Chico e Cartola,
agora eu choro ouvindo qualquer coisa.
Às vezes me parece que sinto
a tua saudade e a minha
todas juntas no meu peito.
E me arranho com as unhas dessa falta,
elegendo todos os teus pecados para comigo.

Eu sei que já nem sei mais o que sinto,
o que sei.
Se amar cura,
se amargura.

Tento sufocar o desejo
mas o desejo é tão meu
que sufoco a mim mesmo.
Homicido-me!

Tento apagar a lembrança
mas ainda há você.
Então quero apagar-te.
Suicido-te!

Mas se abro o livro
dos poemas do teu punho,
borrados pelas lágrimas dos teus olhos,
ressuscito-nos!

Transpomos o limite,
acendemos a vela que vela
nosso amor moribundo.
E assim é tão grande a certeza
da imensidão das minhas incertezas.



11 de maio de 2013

O que aprendi com meu avô


Como a vida passa... Isso não soa tão retórico pra mim aqui e agora, nesse quarto de  hospital, vendo meu avô. Esse contraste enorme entre essa imagem que eu vejo e aquela de meu avô de minha infância deu vida a essas palavras: COMO A VIDA PASSA! Elas estão aqui agora, ora parecem me enforcar, ora parecem me empurrar, ora elas simplesmente ficam...

Que mania boba a gente tem de esperar o próximo dia, o próximo mês, a próxima estação... O que será que tá dentro desse velho coração que ainda bate? O que somos nós diante desse peso que o passar do tempo joga sobre essa matéria que abriga nossa alma?

Vendo ele aqui eu senti o peso da “meninice” saindo de mim. É como se de repente eu me torna-se adulto, como se as coisas tivessem tido uma mudança total de valores. Como não pensar e repensar em tudo diante de uma vida se esvaindo?

É meu avô que gerou meu pai, que me gerou. De uma forma ou de outra, é um pedaço meu que vai indo. Mas esse mesmo pedaço volta... Volta pelo meu pai.

Meu pai me ensinou a ver a vida como algo circular.
Um dia, meu avô cuidou dele, pois ele era pequeno, indefeso e debilitado (Recordo-me da história do leite de cabra, que meu avô caminhava longos percursos pra busca-lo, pois o leite da minha avó era fraco.). E assim eu vi isso se repetir durante toda a doença de meu avô. Agora era ele quem era fraco, indefeso e debilitado. Aquele que um dia era carregado naqueles jovens braços fortes, hoje carrega e ajuda esses velhos braços fracos e cansados. Foi a mais bela lição que aprendi com meu pai: a lei do retorno na sua mais bela metáfora!

Apesar de tudo, eu ainda enxergo a alma jovem de meu avô. Talvez também seja assim que eu queira viver de hoje em diante: preservar-me menino, mesmo que meu corpo queira dizer o contrario. É isso... a vida vem da alma, e é por isso que aqui e agora o que eu vejo é vontade de viver, seja aqui ou lá, mas ele vai viver. E vai viver eternamente menino...



Terra Roxa, 28 de dezembro de 2011.

Cerca de 2 minutos após eu escrever isso, eu entrelacei minha mão com a de meu avô e ele, com a sua última gota de força, apertou-a e se foi...

Reflexo sobre imagens passadas


O tempo e sua incrível missão de passar... Dias, meses, anos e as sementes que plantamos conforme eles correm. Ficam lembranças. Boas ou ruins, elas ficam. Amigos que cultivamos, laços que criamos, barreiras que a gente derruba, os tombos que a gente cai. Isso tudo se faz necessário para construirmos o que chamamos de presente. Os tempos de outrora não voltam, a vida corre solta e a gente tem que escolher abraçar isso e desprender-se daquilo.

Em algumas coisas é bem fácil por ponto final, noutras não. Nem um pouco. Há também aqueles capítulos nos quais, por mais que saibamos o quanto mereçam um ponto final, insistimos em saudar-lhes com reticências na esperanças de voltar a discorrer sobre eles num parágrafo qualquer no futuro. Às vezes, por ironia do destino, até acontece. Mas não vale a pena ater-se a isso. Não que esperança seja sinônimo de atraso, mas é que a vida vai indo feito um barco de papel solto na correnteza, e às vezes a gente tem essa mania besta não enxerga o que tá bem na frente do nosso nariz, ora. Deixemos que as ironias do destino sejam realmente irônicas, pois.

Olhar pra trás tem que ser pra ver ao que vale a pena se entregar no presente, no que vale a pena acreditar para o futuro. Não é digno de louvação tropeçar na mesma pedra na qual já tropecei. Catapora a gente só tem uma vez, então porque é que temos que sofrer do mesmo mal tantas vezes? Usemos a lógica da catapora. Aconteceu uma vez, criei meu antídoto. Pronto, chega. De agora em diante esse mal não me pega mais.

Entretanto, enumeremos as vezes que ficamos parado num mesmo ponto, por um tempo tão grande, estagnados, feito uma trepadeira que cresce numa árvore. Quantas coisas passaram, quantas oportunidades insistiram em gritar: “hey, estou aqui!” e nós preferimos fingir que “não estamos”. E, quase sempre, elas não voltam, não! Veja, até elas usam a lógica da catapora: tentam insistir na gente uma vez só.

O fato é que as coisas só acontecem quando nós as fazemos valer. Não queiramos colher bons frutos sem ao menos plantar uma semente, ou a plantar e não cuidar. Tudo que deixamos cair nesse nosso terreno do hoje é determinante para a colheita presente e futura. Escolha valores, escolha amigos e cultive os que já têm. Não se contente com pouco no que diz respeito ao teu crescimento, afinal é um esforço que refletir-se-á em teu benefício. Ninguém chega ao décimo degrau sem antes passar por outros nove, ninguém ganha na loteria se não comprar o bilhete.

As coisas não são perfeitas e quase nunca do jeito que a gente quer. Então escolhamos melhor pelo que vale a pena lutar ou sofrer, para que, quando fizermos um passei pelo nosso museu interior, o que sintamos seja só saudade boa e, com o peito estufado e até mesmos com lágrimas felizes nos olhos, digamos: “puxa, como valeu a pena!”.
Você já olhou para o céu hoje? Não?!
Não perca tempo, amigo. 
As estrelas convidam para um dialogo necessário.
Tudo aquilo que você hesita pensar elas cintilam.

Os homens criaram mapas baseados nas estrelas
E hoje são elas quem orientam minha noite, 
cintilando este ceu granulado,
jocoso e misterioso.

Sai pra lá, matemática!
Não quero suas fórmulas.
Esses pontinhos azuis me indicam
Todo o caminho. 

4 de maio de 2013

Perspectivas


Hoje as estrelas são só astros.
Outrora elas eram vaga-lumes
olhos dos deuses
pérolas ponteando no céu escuro.

Hoje as nuvens são apenas partículas diminutas de gelo.
Mas elas já foram árvores
gatos
picolés
sorrisos.

Agora o arco íris não passa de um fenômeno óptico.
Mas ele já foi um escorregador
por onde nós descemos
até os abraços mais profundos,
até os sonhos mais abstratos.

Hoje as rosas têm espinhos
não pétalas.
Eu não acho mais graça nas tardes de domingo,
nem no brigadeiro de colher,
nem mesmo o pôr-do-sol no Jardins dus Tuileries
é bonito como já foi um dia.

Nosso plural singularizou-se.
De que adiante um pretérito mais-que-perfeito
se o presente é saudade?
Eu sou transitivo direto.
Você, objeto.




1 de maio de 2013

Encontro

Eu gosto de me perder
pois eu nunca mais me encontro.
De todas as vezes que eu me perdi
me resta um resto
do restante do que restou de mim.

Eu me fragmento
me fraciono em perdas constantes.
Se perder-se também é um caminho
meu Deus,
como eu sou caminhante!

Perdendo-me eu deixo o que pesa
o que envenena.
No futuro eu perco meu passado
para não enlouquecer no presente.

Aliás,
se todos os segundos seguintes são futuro,
se todos os segundos anteriores são passado,
o presente dura um segundo?
E um segundo, quanto dura?

Eu me perco no tempo
porque o tempo se perdeu de mim.
O tempo
"insônia da eternidade".