Eu via um menino... um menino e uma estrada longa. Ele
vestia uma bermuda surrada azul e uma camiseta branca com uns dois ou três
furos que retratavam que ela não era muito nova. A sola dos pés tocava a terra
da estrada.
O menino e a estrada... e ele seguia por ela.
Várias coisas existiam nesse caminho. Porém ele seguia sem
notá-las. Havia algum tempo que nada do que via lhe fazia olhar com mais
intensidade, vontade e apreço.
Num dado momento, totalmente inesperado, enquanto seguia seu
caminho, avistou pérolas. Sim, pérolas... e elas brilhavam muito quando ele as
vias de longe, sob a luz do sol que ardia fortemente. Eram pequenas. Pequeninas
e frágeis pérolas...
Então ele acelerou seus passos na ânsia irrevogável de
chegar mais perto, de tocá-las, de tê-las... e seus olhos brilhavam tanto
quanto elas. Um brilho que a muito tempo não se fazia presente naqueles olhos
profundos, que carregavam medo e receios de tempos passados. Mas aquelas
pérolas que avistara ao longe estavam sendo capazes de trazer-lhes luz.
Ia se aproximando, chegando perto... o coração batia a um
ritmo desconhecido, um ritmo forte, descompassado, que gritava coisas loucas e
lhe bombeava o sangue de uma maneira salutar, que lhe fazia sentir coisas
desconhecidas ou adormecidas em uma memória afetiva ainda marcada por coisas
não tão boas.
Mas de repente esse brilho começava a diminuir, passava a
ser um tanto quanto fosco, ainda que de uma maneira gradual... e então esse
menino diminuía seus passos. Ele tinha medo! Porque elas estavam tornando-se
menos ofuscantes? o que estaria acontecendo?
Aquele ritmo descompassado do seu coração que antes era de
esperança e alegria vai se tornando um ritmo de agonia. Mas ele não podia
parar, ele queria descobri o que estava acontecendo com aquelas dádivas que tinha
avistado...
Ele novamente acelera seus passos... e quanto mais perto ele
chega, menos brilho elas possuíam, até chegar a um ponto em que começam a
desfigurar-se...
Não são mais tão redondinhas e nem aparentam algo valioso.
Ainda que lhes existisse um brilho não era o mesmo que ele avistara antes. Não
é “o” brilho... é só um brilho, um brilho qualquer, de um cascalho, talvez.
Ele perde, então, a força que lhe fez caminhar ansiosamente
ate ali... Senta na beira daquele caminho, deita a cabeça sobre os joelhos,
fecha os olhos e tenta sentir alguma coisa. Sim, ele tenta sentir alguma coisa,
pois lhe parece que todos os sentidos foram roubados por tamanha desilusão.
Primeiro procura rever as forças físicas, para que possa
levantar a cabeça, abrir seus olhos já molhados e marcados pela decepção, e
encarar aquilo... Aquilo que era a realidade.
Infelizmente eram apenas cascalhos...
Cascalhos que estavam ali por todo o intemperismo que aquele
caminho sofreu... eles não tinham motivos especiais, apenas cumpriam sua missão
de cascalhos.
Ele então pega alguns deles na mão, quer ter certeza de que
são mesmo pedras sem valor. Ou pelo menos aquele valor que ele registrara de
longe... e eram...
Silêncio... Havia outra coisa qualquer para aquele momento?
Dúvidas... Consequentemente elas viriam.
Porque será que ele imaginou serem pérolas aqueles inocentes
cascalhos distribuídos ao longo daquele caminho? Quais motivos aquele simples
menino que trajava bermuda, camiseta velha e tinha os pés descalços tinha para
enxergar tanto valor em coisas simples, e porque essa mesma imaginação que
existia ao longe não se fez presente perto?
Talvez lhe faltasse algo... não perto, mas longe. Algo
sublime, algo ímpar, fundamental para enxergar a realidade, mesmo que distante
ou mesmo que lhe pareça melhor confundir cascalhos com pérolas.
Cascalhos não
são perolas! Disso ele sabia!
Mas... era justo ele se privar de viver aquele momento
maravilhoso que foram seus poucos passos em direção às “perolas” que viu ao
longe?
Não... não era.
O sangue humano que lhe corria nas veias não permitiu tal
proeza. Eram pérolas... ao menos pra ele e naquele momento, e ninguém pode
negar isso...