4 de maio de 2013

Perspectivas


Hoje as estrelas são só astros.
Outrora elas eram vaga-lumes
olhos dos deuses
pérolas ponteando no céu escuro.

Hoje as nuvens são apenas partículas diminutas de gelo.
Mas elas já foram árvores
gatos
picolés
sorrisos.

Agora o arco íris não passa de um fenômeno óptico.
Mas ele já foi um escorregador
por onde nós descemos
até os abraços mais profundos,
até os sonhos mais abstratos.

Hoje as rosas têm espinhos
não pétalas.
Eu não acho mais graça nas tardes de domingo,
nem no brigadeiro de colher,
nem mesmo o pôr-do-sol no Jardins dus Tuileries
é bonito como já foi um dia.

Nosso plural singularizou-se.
De que adiante um pretérito mais-que-perfeito
se o presente é saudade?
Eu sou transitivo direto.
Você, objeto.




Nenhum comentário:

Postar um comentário