11 de maio de 2013

O que aprendi com meu avô


Como a vida passa... Isso não soa tão retórico pra mim aqui e agora, nesse quarto de  hospital, vendo meu avô. Esse contraste enorme entre essa imagem que eu vejo e aquela de meu avô de minha infância deu vida a essas palavras: COMO A VIDA PASSA! Elas estão aqui agora, ora parecem me enforcar, ora parecem me empurrar, ora elas simplesmente ficam...

Que mania boba a gente tem de esperar o próximo dia, o próximo mês, a próxima estação... O que será que tá dentro desse velho coração que ainda bate? O que somos nós diante desse peso que o passar do tempo joga sobre essa matéria que abriga nossa alma?

Vendo ele aqui eu senti o peso da “meninice” saindo de mim. É como se de repente eu me torna-se adulto, como se as coisas tivessem tido uma mudança total de valores. Como não pensar e repensar em tudo diante de uma vida se esvaindo?

É meu avô que gerou meu pai, que me gerou. De uma forma ou de outra, é um pedaço meu que vai indo. Mas esse mesmo pedaço volta... Volta pelo meu pai.

Meu pai me ensinou a ver a vida como algo circular.
Um dia, meu avô cuidou dele, pois ele era pequeno, indefeso e debilitado (Recordo-me da história do leite de cabra, que meu avô caminhava longos percursos pra busca-lo, pois o leite da minha avó era fraco.). E assim eu vi isso se repetir durante toda a doença de meu avô. Agora era ele quem era fraco, indefeso e debilitado. Aquele que um dia era carregado naqueles jovens braços fortes, hoje carrega e ajuda esses velhos braços fracos e cansados. Foi a mais bela lição que aprendi com meu pai: a lei do retorno na sua mais bela metáfora!

Apesar de tudo, eu ainda enxergo a alma jovem de meu avô. Talvez também seja assim que eu queira viver de hoje em diante: preservar-me menino, mesmo que meu corpo queira dizer o contrario. É isso... a vida vem da alma, e é por isso que aqui e agora o que eu vejo é vontade de viver, seja aqui ou lá, mas ele vai viver. E vai viver eternamente menino...



Terra Roxa, 28 de dezembro de 2011.

Cerca de 2 minutos após eu escrever isso, eu entrelacei minha mão com a de meu avô e ele, com a sua última gota de força, apertou-a e se foi...

Nenhum comentário:

Postar um comentário