Como
a vida passa... Isso não soa tão retórico pra mim aqui e agora, nesse quarto de hospital, vendo meu avô. Esse contraste enorme entre essa imagem que eu vejo e aquela de meu avô de minha infância deu vida a essas palavras: COMO A VIDA
PASSA! Elas estão aqui agora, ora parecem me enforcar, ora parecem me empurrar,
ora elas simplesmente ficam...
Que
mania boba a gente tem de esperar o próximo dia, o próximo mês, a próxima
estação... O que será que tá dentro desse velho coração que ainda bate? O que
somos nós diante desse peso que o passar do tempo joga sobre essa matéria que
abriga nossa alma?
Vendo
ele aqui eu senti o peso da “meninice” saindo de mim. É como se de repente eu
me torna-se adulto, como se as coisas tivessem tido uma mudança total de
valores. Como não pensar e repensar em tudo diante de uma vida se esvaindo?
É
meu avô que gerou meu pai, que me gerou. De uma forma ou de outra, é um pedaço
meu que vai indo. Mas esse mesmo pedaço volta... Volta pelo meu pai.
Meu
pai me ensinou a ver a vida como algo circular.
Um
dia, meu avô cuidou dele, pois ele era pequeno, indefeso
e debilitado (Recordo-me da história do leite de cabra, que meu avô caminhava
longos percursos pra busca-lo, pois o leite da minha avó era fraco.). E assim
eu vi isso se repetir durante toda a doença de meu avô. Agora era ele quem era
fraco, indefeso e debilitado. Aquele que um dia era carregado naqueles jovens
braços fortes, hoje carrega e ajuda esses velhos braços fracos e cansados. Foi
a mais bela lição que aprendi com meu pai: a lei do retorno na sua mais bela
metáfora!
Apesar
de tudo, eu ainda enxergo a alma jovem de meu avô. Talvez também seja assim que
eu queira viver de hoje em diante: preservar-me menino, mesmo que meu corpo
queira dizer o contrario. É isso... a vida vem da alma, e é por isso que aqui e
agora o que eu vejo é vontade de viver, seja aqui ou lá, mas ele vai viver. E
vai viver eternamente menino...
Terra Roxa, 28 de dezembro de 2011.
Cerca de 2 minutos após eu escrever
isso, eu entrelacei minha mão com a de meu avô e ele, com a sua última gota de
força, apertou-a e se foi...
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